Mil olhos me reprovarão quando por mil bocas me virem passar. No meu estado mais ebriamente sagaz os outros passam efêmeros, sorrindo pateticamente de canto com o cigarro preso entre os lábios, fingindo sentir um prazer na verdade inexistente. E permaneço sozinha. Ilusão é acreditar que não estamos sós quando somos todos náufragos dum mundo hipócrita que quer nos convencer a qualquer custo que vale a pena estar aqui, que vale a pena estar aí, que vale a duras penas se doar e abertamente sentir. Que vale a pena continuar buscando o que nem se sabe o quê só pra se achar importante, que de alguma maneira somos essenciais. Não somos. Na verdade ninguém se importa com seus bons costumes, sua benevolência, com sua campanha anual pra arrecadar comida pros mais fodidos que você no natal, só você se importa. Altruísmo é utopia de gente cega.
No fim, a vida é a conta do bar duma mesa grande: a gente se empolga no começo, pede todo o cardápio, ri a toa de todos e pra todos sem preocupação alguma. Com o passar do tempo as pessoas vão se levantando, indo embora... Algumas deixam um trocado, outras não. Até que você se encontra sem juízo largado numa mesa com mil cadeiras vazias e uma conta cara demais pro seu bolso. Só que na vida não tem como pagar lavando pratos, na vida a gente paga enxugando as próprias lágrimas. Sempre sozinhos.
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