quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Exceção

Em seus dias normais, por assim dizer, sentia tudo de uma vez. Sempre foi sinestésica, agridoce. Hoje acordou com o sol, sem saber o porquê, era um dia comum como os anteriores. Não foi. Acabou não agüentando o bombardeio sentimental geminiano e parou de sentir, assim, do nada. Fumou seus cigarros, mas nem a típica dormência nos dedos que os tragos lhe causam foi capaz de sentir. Colocou suas músicas mais deprimentes, e nada. Buscou o passado, suas linhas tortas, o interior do anterior. Nada. Chorou por naquele instante seus desejos, anseios, prisões e pensamentos serem nulos. Sentiu enfim que cada lágrima carregava em zeugma o pesar de tudo que deixou de ser durante o dia, durante um tempo qualquer e indefinido. Perdeu-se em si mesma, manteve-se inerte em sua loucura. Dissipou a raiva, a incompreensão, seu amor. Como pode a vida ser tão tola? Como pode ela ser tão viva? Recorreu ao papel como quem procura um colo pra se debruçar, abraçou as palavras e disse-lhes coisas de amor, eternizou nas linhas o momento em que por um segundo não sentiu nada, aprisionou no ponto final a falta do ser que em mim habitava.

Obrigada à http://kakapagliuca.blogspot.com/ pelo selinho ! Adoro tua forma de escrever. :*