terça-feira, 30 de junho de 2015
Do sol ao inferno
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Nu
Coloca um casaco, tá frio. Tira o sentimento, tá esquentando. Esses shorts não estão muito curtos? Essa desculpa não tá muito esfarrapada? Qual o tamanho da sua verdade? Até que ponto cê (en)cobre a alma?
Com que roupa eu vou? Vestindo um sorriso, no decote levo malícia, na calcinha há maldade. Não, tá vulgar. O que vão pensar? Quanto mais carne mostro, menos alma hão de ver. Se minha nudez faz arder tua retina, espero que queime até enxergar.
Se abro o peito sou ridícula, se abro as pernas uma puta. Bom mesmo é ser fingida, cobrir-me inteira assim bem pura, debruçada na janela com um olhar profundo e lânguido tal qual Julieta a esperar por seu Romeu.
Todo diário tem uma chave, todo corpo guarda um espírito, cada espírito um segredo. Meu diário é escrito em libras, tenha tato para ler. Cada linha à sua maneira: não se afobe, molhe os dedos, sinta a textura do traço, o cheiro das páginas. Vire-as com a certeza de que não pulou nenhuma frase, vocifere minhas palavras, realize minhas vontades.
Saboreie cada dia, fique atento a cada ato. O dia de hoje tá em branco: e aí, tu é um homem ou um rato? Escreve comigo ou cala meus lábios? Calma, pensa melhor, não precipite a resposta porque sou quase uma esfinge, te dou três chances. Fique logo sabendo que sou impiedosa, tô louca pra te ver errar três vezes só pra comer você de costas.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Forever alone
Mil olhos me reprovarão quando por mil bocas me virem passar. No meu estado mais ebriamente sagaz os outros passam efêmeros, sorrindo pateticamente de canto com o cigarro preso entre os lábios, fingindo sentir um prazer na verdade inexistente. E permaneço sozinha. Ilusão é acreditar que não estamos sós quando somos todos náufragos dum mundo hipócrita que quer nos convencer a qualquer custo que vale a pena estar aqui, que vale a pena estar aí, que vale a duras penas se doar e abertamente sentir. Que vale a pena continuar buscando o que nem se sabe o quê só pra se achar importante, que de alguma maneira somos essenciais. Não somos. Na verdade ninguém se importa com seus bons costumes, sua benevolência, com sua campanha anual pra arrecadar comida pros mais fodidos que você no natal, só você se importa. Altruísmo é utopia de gente cega.
No fim, a vida é a conta do bar duma mesa grande: a gente se empolga no começo, pede todo o cardápio, ri a toa de todos e pra todos sem preocupação alguma. Com o passar do tempo as pessoas vão se levantando, indo embora... Algumas deixam um trocado, outras não. Até que você se encontra sem juízo largado numa mesa com mil cadeiras vazias e uma conta cara demais pro seu bolso. Só que na vida não tem como pagar lavando pratos, na vida a gente paga enxugando as próprias lágrimas. Sempre sozinhos.
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