quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Epifania


Você só leva da vida o que ela te traz. Independentemente do modo temporal, ela é sempre recíproca. Não tem tempo melhor pra consertar o que foi feito do que o hoje. Sinta-se seguro quando alguém disser que se importa, porque a gente sabe que não dura pra sempre. Esteja sempre presente, é dele que vivemos. O resto é suposição. Não sei quanto vou viver ou para que sirvo, mas aprendi que o amor é maior, bem maior, do que tudo que podemos ser e fazer. Quero poder descansar com aquela sensação de dever cumprido, ter feito ecoar nos ouvidos de quem atravessou meu caminho algo que valha a pena, pois não somos descartáveis. A matéria esvai-se, o sentimento não cai por terra. Sou de alma e de mundo. Carrego nos lábios, nas mãos e no peito a angústia e o louvor de tentar espalhar bem. E quero isso, e quero mais e quero muito e quero sempre! Serei infinda enquanto eu quiser ser alguém, porque a busca por si e pelos outros é o que faz o mundo transladar. Eu tô aberta pra sentir a vida sem pensar nos inúmeros socos no estômago que a definem.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Pra você saber o que eu escrevi ontem


Conheci gente nova, extravasei, extrapolei limites como a boa cafajeste que vinha sendo. Bebi pra chorar, anestesiar, senti o prazer da liberdade em outras bocas na tentativa de esquecer. Não adiantou. Tudo o que o gosto amargo de vodca, cigarro e rancor fizeram foi me levar de volta pro seu abraço. Alguém me disse pra eu nunca me anular por outra pessoa e foi o que eu fiz. Vim ser feliz, coisa que outrora eu achava que não sabia lidar, até perceber que ser feliz é fazer o que se quer sem pensar em terceiros, sem medo de errar. Mesmo que mais uma vez.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

De tragos, contradições e dores

Não vou negar que ainda espero ligações na madrugada, que me aperreio quando sai sem mim, que me apego a todos os detalhes. Só não sei se continuo esperando ou se deixo ir todo esse aperto embora, ou até mesmo se o aperto é pela posse e não pela falta. Me complico a cada atitude que o coração e a bebida tomam. Me deixem pensar sozinha, pelamor? Sem o corpo inebriado e ludibriado pelo álcool, sem passado, sem correria, sem sentimento pra fazer decidir o coração. Tô naquele tipo de sonho que a gente se afoga numa imensidão azul e acorda suando frio, só que eu tô me afogando em palavras, esbarrando em tristeza e contentamento, me contradizendo e te contrariando. Nem essas linhas suportam mais o dessabor de querer ser algo que não sei o quê. Eu te avisei, e avisei tanto!, que eu não era concreta, e menos segura do que aparentava. Te disse que hora ou outra você ia se machucar, pra não invadir meu peito sedenta de fontes que nunca existiram no meu corpo semi-árido. Você quis dezembro enquanto eu ainda era agosto, agora transbordei. É insuportável pra nós o meu sentir vazio derramando pela garganta seguidas doses de amor confuso, como se a gente estivesse naquele nosso barzinho e a cerveja estivesse congelada, parando também todos nossos momentos felizes de planos e sexo inesperado. Vamos arejar, fumar uns cigarros e deixar com que a fumaça sem nenhuma forma e cor tome de conta do que vai ser. Os tragos são sempre inesperados: podem queimar por dentro e fazer engasgar ou amenizar a dor deixando-se fluir o sopro de nicotina pelo ar.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Breathe


Nunca quis amor tranquilo, maciez, quietude. Sou de gêmeos: do ar, liberta, instável. Quero perder o juízo, deixar os pés dançarem conforme as batidas do coração, as mãos passearem pelo corpo à medida que o corpo arrepia durante o toque. Mas sou segura: não ultrapasso sinais nem atropelo sentimentos. Gosto de amores lentos, que se decifram aos poucos, que não perdem segundos e se espalham pelo corpo inebriando a alma. Era da gente ali, sem casa, rumo e certeza e com uma simplicidade imensa no peito, que eu precisava. Morremos ao passo que nos deixamos esquecer como era quase impossível andar de mãos dadas e dormir de conchinha, embora desejemos isso pra sempre. Fomos furacão, colo, abraço, sorriso e lágrimas. Fomos idas, vindas, barreiras e pedágios. Fomos casa, carro, cozinha e coração. Fomos vida e amor, carinho e desafeto. Fomos tudo, menos nós mesmas quando mais precisávamos. A gente perdeu o fôlego e acabou se enforcando.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nó do desejo


Eu sonhava em ter essa rotina de faculdade, mil trabalhos, ter que trabalhar, sair com os amigos e fim. Não quero mais. Quer dizer, eu quero, mas não quero só isso. Eu quero conhecer tudo e todos, e esse é meu grande defeito. Não me conformo em ter apenas porcentagens de algo, quero tudo de uma vez e quero intenso, e quero já. Ao mesmo tempo a parte do juízo grita por planos, foco, estabilidade, conversinha de mulher moderna blablabla. Eu não tenho um sonho, tenho vários, cuja maioria não fazem parte do mesmo contexto. Quero minha vida articulada em zil parágrafos, catalogada em histórias de vários tipos. Odeio a idéia de me fazer limitada, e as linhas me ajudam com isso. Esses dias, tendo um dos meus dias limitados em um barzinho, vi um grupo de músicos paraguaios e argentinos que estavam fazendo um mochilão pela América Latina, e aquilo fez a minha ficha cair. Queria ser um deles, sair por aí levando nas costas a mochila, no coração aquele aperto gostoso e nas veias muito sangue fervendo. Tô ligada a 220v sem agir, sem saber por onde começar, porque eu sempre quero começar algo, mas nunca sei como fazê-lo. Coragem, cadê você? Preciso mais do que amor e angústia pra fazer o peito reagir aos estímulos do mundo. Quero vento no rosto enquanto pego a estrada pra qualquer lugar que nunca fui, quero fazer tatuagem com um hippie no meio do caminho e depois me embebedar com estranhos como se eles fossem meus amigos de infância, sei lá, qualquer coisa pra esse nó na garganta desfazer, qualquer coisa que me dissesse que sou dona de mim, que devo, que posso, que vou. Acabei presa nos meus planos antigos sem levar em conta a mudança que tive. Viajar, estudar, amar, transar num lugar bem louco, conhecer pessoas fora dos meus lugares comuns, dormir na praia depois de um porre daqueles, acordar beijada pelo sol depois de ter me coberto de vida. VIDA, não os hábitos que tenho agora. VIDA, não o que as pessoas acham conveniente e seguro. VIDA, sem direção, rumo ao que eu sempre quis.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A primeira prece

A morte enfraquece meu corpo vivo, disposto. Defronte dela, desabo. Tenho vergonha de Deus. Será que Ele sabe disso? Tenho vontade de ser uma filha pródiga, mas o medo de quem não tem uma reputação lá muito boa me contem na hora de pedir, clamar, rogar, juntar as mãos e me pôr de joelhos no chão. Será que omito meus pudores? Será que só pelas lágrimas que caem quando fecho os olhos calada, Ele sabe o que eu queria realmente ter dito? Esses tempos tenho chorado bastante e tenho ficado aflita, amedrontada em perder qualquer pulsar de vida existente em mim e nos outros. Ando perturbada com minha indolência espiritual. Logo agora que pensava estar feliz, me descobri fraca. Sabe, sempre ignorei Deus porque minha única certeza sempre foi a de que tudo um dia acaba. Assegurada disso, mascarei minha fé com filosofia barata, preconceito religioso, falso racionalismo e algumas cervejas. Mas ao me sentir ameaçada pelos males vitais através da dor alheia, o coração apertou e pôs minhas mãos a escrever um apelo a Ele, pra que guarde a mim e a todos, que como eu, não sabem rezar há muito tempo, mas que no fundo sempre souberam que Deus está em tudo e por todos. E o medo? A gente vai aprendendo a lidar conforme formos abrindo o coração.

domingo, 24 de julho de 2011

You know I'm no good,


Ela avisou. E conseguiu morrer de amor sem nenhum romantismo Shakeasperiano. Apenas o fundo do poço exalando o ar entorpecente de um coração magoado regido por uma mente frágil, leviana. Não há como mandar pra "rehab" os impulsos de um pulso enfraquecido por decepções e falsa piedade. O que sobrou virou música, versos apelativos em voz marcante. Hora do show. Garganta aquecida com embriaguez, passos em falso sucedidos por quedas, as quais não conseguiu se reerguer. Mas não dá pra negar que aquela menina disfarçada de pin up tenha sido solidária: compartilhou toda dor com milhões de corações fatigados, quebradiços, cuspiu palavras na boca da gente e deu coragem pra que gritássemos a raiva e indignação porque "love is a losing game". "Tears dry on their own". É, eu também chorei. E agora todos sentem a perda de quem se perdeu assim que decidiu "go back to black".



Ladies and gentlemen, Miss Amy Winehouse.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Freud explica


Aí eu tava só, num lugar que quero muito estar um dia, sentada num banco de madeira surrado, típico de praças rústicas onde as histórias de amor começam nos filmes. Você chegou, abriu um sorriso e sentou ao meu lado. Sem saber o que fazer, me refugiei no celular, fazendo parecer importante o que via na tela. Num piscar de olhos, você puxou papo e tentei me controlar pra não parecer tão eufórica assim, afinal você é do tipo que deixa rastros de encanto por onde passa. A essa altura já pensava no texto bobo, regado a sentimentalismo infantil que escreveria. Começamos uma conversa descontraída, foi quando seu abraço desajeitado envolveu minha alma excitada e me senti dentro do sonho mais perfeito. De repente o banco flutuava no céu enquanto eu me encantava com cada pedaço de momento. Eu era a criança de uns anos atrás comendo a última banda do ovo de páscoa: devagar, sem doar. Naquele dia eu teria algo importante a fazer. Você me olhou nos olhos, disse que ficaria até o final, desejou boa sorte e atuou no instante mais feliz da minha existência ao tocar seus lábios nos meus por segundos doces, sinceros e dormentes. Relembro saudosista um futuro que desejo imensamente agora. Revivo cada passo nosso, de acordo com o compasso do teu som, deslizando com o corpo e coração no timbre da sua voz. Vesti meu melhor sorriso calçando passos de dança. Você foi o meu primeiro encontro depois de tantos outros que esqueci naquele banco quando me perdi em você.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dois pesos e duas medidas

Aprendi a ouvir as batidas do coração alheio antes de culpá-lo por amar demais. Porque o amor só é idiotice quando é mentiroso. A dor de um desamor nunca é solidária com os que se perdem nas nuvens ao sentirem os lábios se procurando através de olhares doces. E eu te olho. Olho e emano luzes multicoloridas sem perceber. Olho, e você me parte o coração por depositar nele o pesar e a leveza de querer bem.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mais que a mim

A página em branco durante horas, meses. Não que não tivesse o que ser escrito, é que perdi a mão de como usar as palavras, ora por não serem suficientes para descrever o êxtase dos meus momentos, ora por não saber mesmo onde encaixá-las. E acho que tudo isso é resultado de uma mudança monstruosa que só reparei agora: HOJE não tenho medo de falar, não me escondo por entre as linhas, rimas e concordâncias verbais. Foi e ainda é difícil, mas aprendi outras artimanhas em que posso de vez em quando me camuflar, até porque a verdade do sentir, assim desnuda, nunca é saudável. É preciso ter mais feelings que sensatez e isso, por mais que pareça estranho, é novo pra mim. Imagina você, alguém cheio de medos pra sentir, se libertar, descobrir-se amando insanamente? É um caminho longo, árduo e por vezes perverso. Mas eu consegui! Consegui me desfazer das correntes que as mágoas anteriores me faziam arrastar e pesavam minh'alma com insegurança. Agora as correntes que amedrontavam a vontade de ter alguém, hoje abraçam meu peito com o medo de não ter mais, consequência de amar. O que eu queria mesmo dizer é que me encaro no espelho com mais conforto e sensatez, que me assumo em todos os atos de nariz em pé, que bato de frente sem medo, embora já preparada pra qualquer represália. Aquela menina que em outras linhas se dizia confiante, racional, segura e pé no chão caiu por terra a partir do momento em que a outra garotinha perdida em metáforas, metonímias, paradoxos, antíteses, hiatos, ambiguidades e outros vícios e figuras entrou em cena dando lugar à mulher que encontrou palavras, em meio a confusão dos seus pensamentos, pra deixar registrado nestas linhas que cresceu.

domingo, 20 de março de 2011

Tempo de cinzas, cinzas do tempo

Você pode não fumar o cigarro, mas ele continuará queimando. Tempo, tempo, tempo. Não quero mais desperdiçar cigarros que não fumei, hoje em dia o maço anda caro demais e minha ansiedade constante não permite que eu deixe tanta cinza pela casa tendo os pulmões ainda intactos.


"Não me pergunte o que é que eu quero da vida
 O que eu eu quero da vida?
 Eu tenho sede demais!"
                      (Charlie Brown Jr.)