domingo, 16 de março de 2014

Keep Calm and?

Calma. Deixa o sangue esfriar. Coagular. Secar. Formar ferida. Calma. Não tira a casca. Controle os dedos. Corte as unhas. Use luvas. Não se machuque assim tão fácil. Calma. Não xingue, não se exceda, não beba demais, não fume demais, não chore demais, não corra, converse sempre, seja menos egoísta, fica aqui. Não sei porque você não vai. Vá, mas não fuja. Fica, mas não se mova. Vai ali praquele canto, calada, apenas sorrindo. Não deixe de sorrir nem pra engolir e não deixe de engolir sempre. Calma. Não grite, seja amável, me ame. Não suje, lave a casa e deixe a alma afogar. Esqueça e deixe sempre eu me lembrar de todas as lágrimas, brigas, cortes e costuras que você me fez. Não se faça de louca nem atrapalhe meus devaneios. m a n t e n h a a c a l m a. De tanta calma a alma se esvai. De tanta paciência a fúria tomou as rédias. De tanta inércia a língua dança e lança todo o veneno outrora engolido. Mas não digerido. Dez mandamentos. Sete pecados. Vá a merda! Quem não sabe bater só serve pra vítima. E que a vítima tenha calma, não eu. De tanta calma o relógio parou, desandei, desandou. Inércia amarga afeta o amor. Será que é fatal? Coração lascivo, conviver passivo. Com viver. Conviver. Há um charme derrotista em andar sempre de metrô: dar mil voltas no mesmo buraco. Há um charme pessimista em perder um amor: lavar a alma com a própria tristeza, banhar-se em lágrimas do que há tempos era certeza. Era uma vez. Mas calma. Escuta o fim da história. Termina com "viveram para sempre". Nem sempre felizes, nem sempre aos beijos, nem sempre no trabalho, nem sempre bêbados. Apenas para sempre. Apenas eterno dentro do sangue que esfriou, coagulou, secou, formou ferida. Dentro de nós.