quinta-feira, 24 de novembro de 2016
Caótica
O caos me faz produzir ao passo que aos poucos morro por dentro a cada linha. E amo essa sensação de sofrer a cada palavra floreada, a cada combinação semântica, a cada sujeito oculto representando uma alegria ou uma decepção. É no caos que me encontro depois de uma longa procura, é nele que despejo a angústia num copo pra beber mais tarde no mesmo bar. É ali que vou ao chão enfraquecida pela embriaguez e também onde me reergo endurecida pelos socos diários. É na bagunça da cabeça, no meu conflito, na minha zona de guerra onde organizo as paranoias por prioridade e decido qual servirá de travesseiro noite após noite. O caos é amor, ora o próprio ora o que espalho, sendo este, na maioria das vezes, recolhido já destroçado, pronto pra virar mais um mosaico preso à parede do meu quarto, mais um quadro cubista, retrato do niilismo do meu coração.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Amor e outras drogas
A noite mastiga meu peito e me engole, me cospe indefesa refém desse afeto que, de fato, não passa. A cada dia nasço pra esquecer e morro na lembrança. De tudo que já tomei a única coisa que nunca engulo é a distância, quando o amargo esquenta o peito depois de uma dose forte, o corpo reage, renego a cruel dose e num ímpeto inato procuro você. v í c i o.
Mamãe sempre alertava sobre os malefícios das drogas, só não podia adivinhar que a pior delas viria do coração. Se é vicio, se é costume, história de outra vida, karma, feitiço ou maldição, não sei. Eu preciso é de coragem pra entregar ao tempo essa história, preciso aprender dizer adeus, ser pontual, parar de nos enganar com reticências e "até logos" sempre fatais.
domingo, 21 de agosto de 2016
Pressa
terça-feira, 26 de abril de 2016
Deslizes
Querida, a vida vai andando e vamos continuar nos perdendo
por aí. Os bares fecharão e nos manteremos ébrias nas mesas, eternizadas em
cinzeiros e garrafas vazias. Meu bem, só nos resta aceitar que tudo é um ciclo,
mas que sempre nos encontraremos. Seja como for, por qualquer esquina, a gente
vai tá ali, como um oroboro: nos inícios e encerramentos, nos abrindo e
fechando ora pro mundo ora pra nós mesmas, ora no quarto a sós ora nas
despedidas aos berros. Amor, não há mais nada o que fazer. Todas as receitas
que seguimos e criamos não resultaram em nada duradouro nem absoluto. Nossas
mentes se esforçam, mas o coração persevera. A solução então é não ligar e
continuar te ligando, não procurar e continuar te encontrando, não querer e
sucumbir, te amar sem relutar. Posso usar mil paradoxos na tentativa de resumir
que você é metonímia pra minha vida e ninguém entenderia. Paremos de brigar com
o destino, com o karma ou sei lá com o quê que faz com que perduremos nesse
amor angustiado. Desista também de se explicar aos amigos, eles podem até
compreender, mas vão sempre nos perguntar o porquê dessa tortura tão
displicente. Você é a minha personificação de amar, embora eu possa amar tantas
outras. Dentre elas você é a que sempre vai, mas a única que fica. Vamos selar
esse término com as línguas entrelaçadas, pois não há nada que desate esses nós
entre teu peito e o meu. Baby, eu já aceitei que nossas partidas, por mais que
sejam necessárias, são em vão. Amanhã a gente marca um almoço pra discutirmos
mais uma vez como descumpriremos os termos acertados em nossa fugaz decisão.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Escolha
que tu é chave de cadeia, que com você meu terreno impermeia
mas é que quando te deixo assim de lado
relembro os fatos e dá saudade do teu lado ficar
eu tenho que tomar um partido nessa minha vida, viver só de coração partido não dá
fiz um bolo pra você, vai partir ou vai ficar?
te faço perguntas que só eu posso responder
preciso tomar um partido, viver só de coração partido não dá
já cursei tua faculdade, tô graduada na saudade
mas em branco deixei a subjetividade das questões
a prova final é nosso ponto de interrogação
você aplica, eu passo, e pontuo com reticências pelo medo de te trocar
tenho que tomar um partido, viver só de coração partido não dá
o tempo passa, eu rio. o tempo para e é só pranto
viro rio, perco o riso, você cobra uma decisão
já nem sei por onde eu ando, onde eu posso me encontrar?
se falo de amor é de você que eu lembro, você é todo meu tormento
preciso tanto de um abrigo, um lugar longe pra sentir
que sem você eu sou mais forte
mas do teu lado tenho sorte e um colo pra deitar
tenho que tomar um partido nessa minha vida, viver só de coração partido não dá
fiz um bolo pra você, vai partir ou vai ficar?
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
In(sã)na
Quanto mais tento me aproximar do ideal da natureza, mais me distancio dela. Pois enquanto valorizadora da natureza deveria aceitar a indiferença e a fluidez da vida, sendo ela gentil ou não. A realidade é ópio para loucos, é tormento pra quem sente, é incompreensão pra quem é a flor da pele. Existir e ser são opostos dentro da mesma proposta: se fazer presente. A gramática define os passos que demos, que damos, e os que pensamos em dar: o pretérito, o presente, o futuro. E eu tô nesse moinho, presa num limbo-interno-anacrônico, nessa confusão de ideias, na vontade de me fazer presente pra alcançar um futuro, no desejo de me eternizar. Quanto mais eu vivo mais vida encontro. "Quanto mais eu rezo mais assombração me aparece". Elas se assustam. Larguei
o terço, larguei as quartas e segundo alguns por aí sou de quinta. O julgamento de
Kant me pertence? Só deus sabe! Enquanto isso divago sobre coisas que não sei, passeio por
um mundo que não conheço e procuro amar tudo que meus olhos alcançam.
Assinar:
Postagens (Atom)