segunda-feira, 20 de abril de 2015

Oração sem sujeito


  Abrir uma porta pra sair, fechar outras pra ninguém entrar. Limpar o quarto, fazer a cama, abrir a cortina, mudar o tom. Quantos verbos são precisos pra recomeçar? Quantos morrem na garganta por medo do efeito da causa? Morremos em verbos enquanto adjetivamos o coração.
  É tudo uma questão de gramática: usamos a sintaxe pra compreender a semântica, quando por vezes não há o que ser entendido. A semântica do ser é uma frase sinestésica e as metáforas que invento são desculpas pra não usar da sinceridade.
  Substituo o meu inteiro por uma fração indecifrável tentando justificar com metonímia o meu medo de uma nova entrega. É que em tempos de jogos ser objeto direto é perigoso, os outros preferem indiretas, preposições, obstáculos. Simplesmente não estou disposta a ler entrelinhas. Eu leio o abraço, os olhares e seus lábios quando estão junto aos meus. Leio a mão na cintura, a risada sincera depois da piada, o cheiro no cabelo que vai descendo pelo pescoço.
  A partir daí vou escrevendo mil histórias, nenhuma ainda com final, nenhuma ainda realmente feliz. Mas não paro de ler nunca,vou trocando de livro até que algum me faça passar da página dez, até que algum me renda horas de inspiração e frio na barriga, até que palavras doces escapem do meu punho e se estendam em beijos intermináveis.
  Pois bem! Decidi destrancar a alma e parar de engolir verbos. A quem interessar possa: entre sem bater, só traga cerveja, cigarro e sorrisos. Venha com bondade, não repara a bagunça! Me deixe com vontade. Pode deitar na cama, não precisa dizer que me ama, só precisa me querer de verdade, sem culpa, desculpas ou receio. Relaxa aí, te faço um café. Eu sou assim mesmo, tem medo não! Uma hora cê pega o jeito e eu largo a mesa pra comer na tua mão.

Um comentário:

  1. Eventualmente é preciso se entregar para vida, e entender que entrega não tem retorno.

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