terça-feira, 14 de julho de 2015

Desistência


A gente tinha brigado, - a gente sempre brigou, por motivos idiotas ou sérios e até mesmo sem motivos - não nos falávamos há algum tempo e a saudade das nossas bobagens já arranhava no meu peito. Numa noite dessas, com vontade de ouvir sua voz, sonhei com a nossa viagem dos sonhos e foi lindo: o mar, a brisa que esvoaçava meu cabelo, o sol que intensificava o verde dos seus olhos, o amor que nos edificava e entoava as gargalhadas... Acordei. Como de costume na minha rotina sem horários, já era fim de tarde, tinha alguma música rolando no fundo da minha típica crise de ansiedade da tpm, pego o celular e tá lá seu nome na tela, notificado em uma ligação e uma mensagem. Tremi. Senti medo, aquela leve vertigem que ataca por 3 segundos quando o inesperado acontece, a arritmia que deixa as mãos trêmulas e os olhos vidrados na tela com os polegares dançando na frente dela enquanto a cabeça nem sabe o que pensar. Era você ali no celular, era você fora do sonho, era você querendo ajuda com uma formalidade do trabalho, era você impessoal, receosa de que minha raiva pelo último bate boca impedisse que eu me disponibilizasse. Por mais que o mundo gritasse "NÃO, que se vire!", a minha saudade foi impiedosa, tomou as rédias, e respondeu displicentemente "ok". Eu não sei bem quando, no meio da conversa, essa afirmativa me levou pra sua casa e me jogou no teu abraço. A vida só precisa de um "sim" pra acontecer. Por alguma razão meu corpo repele o não quando lembra de todo o riso e renuncia os vários prantos, a minha boca escancarada num prazer masoquista sibila mil "sins" quando o assunto é você, e então você acontece, sua buzina ecoa no portão e mais uma vez pego carona de volta pra tua cama. É como mágica, feitiçaria, é um encanto que materializa a alegria no meu mundo mesmo no meio da nossa confusão. Nós a sós somos nós, embaraço, mãos, pernas e peitos entrelaçados, somos abraço, retrocesso, atrasamos o futuro com os laços do passado, tendo o presente como intermediário de duas cabeças que não sabem lidar com seus corações. Somos desavença e perdão, pontapé e abraço, carinho e decepção. Nossa foto deveria estampar a palavra "controvérsia" no dicionário, bem como estar ao lado de "cumplicidade". Sempre fomos significado, nunca insignificantes. Muda o mês, vira o ano, vem verão, chega o frio, corto o cabelo, preencho vazios, mas teu canto tá sempre aqui, - ou teria você por todos os cantos? - os teus sins moram aqui dentro esperando a hora de escaparem num sôfrego ímpeto que a tua falta me causa. Já nem procuro racionalizar, entreguei pra deus esse amor que não pude segurar nas mãos. Não luto mais contra minha vontade de te ter por perto, por dentro e por cima, não tenho mais armas, nem orgulho nem raiva nem você. Eu te quero, mas não agora, não desse jeito, não com meu mundo estraçalhado, não com a vida me tomando por inteiro. Um dia, quem sabe, a gente se ajeita, recomeça nossa história, reinventa nosso lar, um dia, a gente, sei lá, a gente se RE. A gente se reencontra com a cabeça diferente e o coração no mesmo lugar.