terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eternos laços desfeitos


Quando você acorda, abre a janela de manhãzinha e o sol beija a tua face acariciando o cabelo bagunçado pelas reviravoltas na cama, e daí você se sente agraciado por ter aberto os olhos, aberto a janela; sai disposto a abrir os braços, envolve-se num abraço longo e apertado, que leva a ensejos e beijos, desperta desejo, abrem pernas e entrelaçam-nas, sufoca o grito que vem da tua alma, adormece o corpo e repousa num colo quente e confortável, e desperta do sonho que se fez acordado. Quando depois dos lençóis desfeitos, esparramados pelo quarto, você sorri e irradia aquela luz solar absorvida por aquela manhã linda. Quando seu dia foi péssimo, o chefe te deu um esporro, você chega em casa, ouve aquela voz, a única, que te faz esquecer as oito horas anteriores e se deleita no corpo da voz, que te denga com suavidade e te faz sentir em outra cidade, onde só exista você, ela e a delicadeza de se estar em paz. Quando o riso brota frouxo só de pensar em vocês mesmos, ali, conversando sobre nada num barzinho qualquer em meio a garrafas vazias e palavras carregadas de detalhes. Quando o universo parece pequeno em vista da história de vocês, em que tudo é banal se comparado à importância dos seus encontros diários, do enlace de carne e espírito. Quando o foda-se é a única resposta quando o assunto é o porquê de vocês não se separarem logo. Quando no meio da noite você tem um pesadelo e logo percorre o lado oposto da cama pra se aconchegar e voltar a dormir inebriado pelo cheiro de quem te acalma. Quando é assim, é amor. Quando me vi assim, me vi nas nuvens, carregada pela esperança e a renovação que só o bem maior traz. E eu só sentia, me deixava levar, sem explicação.  Simplesmente não há razão pra não ser quando é. E foi. De repente, assim sem aviso, sem carta, remetente, mensageiro, profecia, pai de santo, oração, que o sol um dia me acordou e não me agraciou com beijos nem afagos, que me vi de braços cruzados, sem sentir os costumeiros batimentos acelerados que certamente me levariam à tua casa, à tua cama, nosso lugar comum. E não havia mais nada ao redor, nem chefe, nem voz, pesadelo, calmaria ou tesão. Fez-se, novamente, morada do nada, meu coração. Fez-se chuva das nuvens que me carregavam, efeito da primavera. A primavera que em mim habita é a única razão para tal desamor. É que em Brasília, meu caro, as flores caem em outubro, e lá se foi nosso bem-me-quer. Partiu do nada, assim como veio ao mundo, assim como é a vida: só se vive pra morrer e só se vive uma vez. Amor meu, meus sentimentos! Hoje oro pra que o tempo te leve em paz. Peço aos céus pra que te guarde, que por entre as estrelas viaje, pois não há nada mais lindo que se morrer e virar luz. Oro agora por minh’alma, pra que não se desespere no vazio dessa morada, pois há de vir a qualquer hora o sol beijar-me pelas manhãs outra vez.

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