Anestesia. Meu sentir foi privado e tô atendendo só aos extintos.
Voltei a ser predadora, primata, rocha, antropofágica. Degluto as impressões
externas do mundo e as devolvo em forma de soco. Minhas palavras cortam e
ferem. É tudo somente sexo e amizade, como ouvi Bethânia cantar no repeat esses
dias. Oito ou oitenta. O veneno corre nas veias e escorre pela boca depois de
beijos desenfreados em outros sem importância. E já nem lembro o que restou, se
restou. E já nem sei o que é me derreter, deleitar com carinho num obro nu em
meio a lençóis bagunçados, perdoar também já nem sei. Não preciso de perdão por
algo que não sinto, nem pedir nem conceder. Não preciso de doses de cuidado ao
tocar em certos assuntos, preciso de porres pra saber o que falar e o que
calar. Se bem que só calo na sobriedade, quando é necessário mentir pra quem
caga regra na minha vida sobre os relatos das noites passadas. Estar só é uma
tortura indolor, por isso minhas costas já não doem mais por conta do peso que
é amar insanamente. Eu não sei o que fazer, mas faço; não sei o que pensar, mas
reflito; não sei como me comportar e danço. Subo na mesa, tomo mais um gole,
mais um trago no marlboro que você me ensinou a fumar, encontro alguém, beijo,
mais um gole, mais uma dança, caio, ébria, louca, no descompasso, já não sei dançar,
dou teu troco pelo coração apertado, pequeno, amedrontado que me foi largado
aqui dentro. Pega o troco, toma uma cerveja com aquela pessoa das suas novas
histórias, porque sede pra mim deixou de ser necessidade fisiológica e passou a
ser estado psicológico. Você não tem condição de saciá-la, meus novos hábitos
não são do nível dos teus trocados.
Uma hora o passado sempre fica pequeno em perspectiva do tamanho que queremos ser nesta vida.
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