quinta-feira, 8 de maio de 2014

Trilhas sonoras, labirintos vivos


Tava tocando Rita Lee. Alguma música que não identifiquei. Tirei. Coloquei um Vanguart e de repente o Hélio começou a cantar sobre o que a gente podia ser. Mas na minha cabeça não tinha "a gente", tinha "eu". O que eu tenho que ser, o que os outros esperam de mim. A verdade é que agora não tô esperando nada e continuo na espera. Outro dia me deparei com um questionário, numa entrevista de emprego, onde uma das perguntas era "quais são os seus planos a curto prazo?", e eu só pensei em responder "continuar sobrevivendo". Ai inventei umas mentiras e cruzei os dedos pra não me perguntarem sobre a resposta na fase seguinte da seleção. Não perguntaram. Ninguém pergunta.
As pessoas simplesmente esperam algo, justamente como eu. E esse texto, ao que parece, é sobre espera, mas na verdade era pra ser sobre como tudo tem me irritado, sobre como eu tô cagando pra vidinha filha da puta de vocês, sobre como eu quero que vocês se fodam. Sério. Daí esperei demais pra abrir a merda do computador e as palavras que eu ensaiei mentalmente sumiram. Todo ensaio é nada quando o espetáculo não estréia. Todo sussurro ao pé do ouvido é nada quando não faz a nuca arrepiar. Tudo é nada quando se tem tudo e não se faz nada. E nada é nada o todo o tempo. Não sei se tenho tudo ou se tenho nada, de qualquer forma é perca de tempo. Me perco.
Cada esquina dessa caminhada sem rumo parece dar em labirintos diversos. Tento escolher o que me parece mais fácil de sair. Não existe mais fácil. Fácil mesmo é virar umas doses e esquecer toda essa mediocridade, cantar mais alto que a música, acender um cigarro e acordar de manhã com poucas lembranças e muita ressaca. Acho que tô de ressaca dessa merda toda. Tudo tem cheiro dos labirintos que em que me meto, onde as trilhas são sinuosas e insinuantes. Elas vêm charmosas, cheias de suingue, más intenções. E eu caio, mergulho, brindo com elas, deleito-me por entre elas, piso em todas, beijo, abraço, me agarro. Quando dou por mim, estão me sugando, me conduzindo numa dança que não pedi, dois pra lá, deus pra cá. Me perco de novo. Aliás, não é que eu sempre me perca, é que nunca me encontro. Acredito nesse lance da vida ser uma eterna busca - pura sagatiba, como diria Seu Jorge - só que nesses momentos de desespero, filosofias baratas e histeria, nos apegamos a todo esse blá blá blá de encontro e espera. Precisamos disso pra continuar, pra colocar a culpa em algo. Só que a vida não marca compromisso com ninguém, apenas exige que nunca estejamos ocupados pra ela.

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