terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Tô, vou, quero


A ansiedade de chegar em algum lugar mata pouco a pouco todos os passos previamente mentalizados. Meu destino, minha sina ou o deus que me rege brinca de antropofagia e faz tudo virar um caos. Se viver é se surpreender sempre, tô vivendo bem. Sempre às escuras, olho as luzes pela cidade e peço em silêncio pra que um feixe de esperança caia das estruturas de concreto sobre meu caminho meio torto, vago, meio quase nada. E ando querendo mudar querendo permanecer.
  Uma bússola, uma vela ou um lampião. Um mapa. Mesmo que eu já tenha riscado sobre ele o xis. Por favor. Não queira ser tão mau comigo assim, não sou dos males o pior. É bem verdade que não sou um doce, mas tenho algo fincado na alma que faz o sangue correr quente e impulsionar o amor pra fora de uma maneira quase hostil. Tenho uma marca no peito, cicatriz do que eu guardo a sete chaves. Se você enxergasse, veria que minhas linhas começam suaves e à medida que as palavras correm, cortam o papel porque é nele que eu deposito toda a minha força. Talvez a minha maior cicatriz seja essa e todas as outras folhas que já rabisquei.
  Minhas palavras são como as pessoas que passam por mim: no início cada uma tem sentido e é indispensável, depois se encerram ou engasgam em algum ponto sendo eliminadas, reorganizadas ou modificadas. Não sei se por conta da minha constante inconstância ou por falta de tempero e paixão por parte delas. Cada uma vale o que transmite e pra mim é tudo uma questão de harmonia e bom senso, quase nunca de estilística. Não faz meu tipo. Até mesmo os palavrões se instalam e são bem-vindos, às vezes eles caem bem. Bem até demais.
  Tem vezes que a vontade de gritar é enorme, mas a boca é incapaz de proferir qualquer coisa a não ser seu nome. E tem horas que o choro é a melhor resposta, horas em que molhar o papel é melhor do que enchê-lo de sensatos devaneios. É quando a lágrima se faz determinante, que todo grito, toda palavra, padece sob a verdade incontestável do silêncio.

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