quinta-feira, 13 de outubro de 2011

De tragos, contradições e dores

Não vou negar que ainda espero ligações na madrugada, que me aperreio quando sai sem mim, que me apego a todos os detalhes. Só não sei se continuo esperando ou se deixo ir todo esse aperto embora, ou até mesmo se o aperto é pela posse e não pela falta. Me complico a cada atitude que o coração e a bebida tomam. Me deixem pensar sozinha, pelamor? Sem o corpo inebriado e ludibriado pelo álcool, sem passado, sem correria, sem sentimento pra fazer decidir o coração. Tô naquele tipo de sonho que a gente se afoga numa imensidão azul e acorda suando frio, só que eu tô me afogando em palavras, esbarrando em tristeza e contentamento, me contradizendo e te contrariando. Nem essas linhas suportam mais o dessabor de querer ser algo que não sei o quê. Eu te avisei, e avisei tanto!, que eu não era concreta, e menos segura do que aparentava. Te disse que hora ou outra você ia se machucar, pra não invadir meu peito sedenta de fontes que nunca existiram no meu corpo semi-árido. Você quis dezembro enquanto eu ainda era agosto, agora transbordei. É insuportável pra nós o meu sentir vazio derramando pela garganta seguidas doses de amor confuso, como se a gente estivesse naquele nosso barzinho e a cerveja estivesse congelada, parando também todos nossos momentos felizes de planos e sexo inesperado. Vamos arejar, fumar uns cigarros e deixar com que a fumaça sem nenhuma forma e cor tome de conta do que vai ser. Os tragos são sempre inesperados: podem queimar por dentro e fazer engasgar ou amenizar a dor deixando-se fluir o sopro de nicotina pelo ar.

2 comentários:

  1. O que dizer diante de tão forte e aberta descrição?
    Muito bem escrito este texto.
    Carregado de coragens e inteiras palavras.
    Abraços

    Senti-me num filme da década de 40 a branco e preto...

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  2. Acho que nosso maior problema é esse: avisar que não somos tão duronas quanto parecemos. Daí o fulano quer testar pra ver se é verdade mesmo e acabamos assim, escrevendo pra ver se passa um pouco da dor... =/
    Lindo texto!

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