Levo o tiro e só morro depois, aos poucos vou sangrando tudo
o que os momentos alegres estancaram com a voz do Cazuza ao fundo e um vinho barato
na mesa do computador. Daí trago o vinho e degusto minha dor. É com
arrependimento que sempre me pergunto o porquê de não ter quebrado tudo ou
morrido de vez na hora do disparo. Ser ou não ser? A palavra por um triz já
atravessando a língua dilacerava o peito muito antes de ser pensada. Distraio
as balas alojadas com sorrisos e abraços e no final estrago tudo, porque no fim
o sangue escorre. Tenho pavor de sangue e de tudo que soa como desagradável e
sufocante. Às vezes tenho pavor de mim. Até que ponto a sofreguidão escondida
muda uma gargalhada? Quando foi a primeira vez que minha garganta começou a
trancar com ela meus sentidos? Que dia o medo de ser atingida me proporcionou
feridas abertas? Não sei quais desculpas dar para o atraso das conversas, não
sei onde eu tava nem com quem. O que eu bebia? Ninguém sabe. Mas as feridas estão aqui, os disparos ecoam
ainda nos ouvidos e o que me reveste já não aguenta mais tamanha exposição ao
sentimentalismo solitário. Mais uma dose, mais um cigarro, mais um choro, mais
um desabafo. Um tiro só dá em morte certa se atingir a cabeça ou o coração e eu
não sei pra onde apontar a arma. E aguardo o minuto em que o meu pedido de
socorro ecoe e anestesie os danos causados por essa violência sutil.
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