Cheguei, sentei esperando. Veio-me com um cardápio cheio de requinte e variedade, me mostrou as especialidades da casa, explicou detalhadamente todos os pratos, me apresentou os novos sabores doces, salgados, apimentados e perversos do lugar. Trouxe consigo um aperitivo como cortesia e saiu dizendo que dali a pouco voltaria para que eu me decidisse e pedisse. Tremi de raiva e impaciência porque eu já sabia o que queria. Mas tudo bem, eu tava bem afim de comer ali, tinha que valer a pena aquele carnaval todo.
Depois de 10 minutos de molho, voltou. Perguntou se eu havia pensado e se aceitava mais um daqueles aperitivos, que por sinal sequer toquei. Respondi que não queria nada, só fazer meu pedido. Num gesto inesperado, me interrompeu, puxou uma cadeira e sem licença alguma sentou-se comigo, ali ao meu lado, sem mais nem menos. Fiquei atordoada, sem reação e mandei bem na lata que não queria saber dele na minha mesa, ele tava lá só pra me servir, um servo e nada mais, porra !
Pediu que eu me acalmasse e indagou sobre minhas preferências. Fitei-o mantendo toda a indignação que eu sentia no momento, ele nem ligou e indagou novamente sobre minhas preferências. Talvez pra me livrar logo daquela situação esquisita e igualmente desconfortável, respondi ariscamente, mas respondi. Discordou de algumas misturas loucas que eu gostava de fazer, deu dicas para que melhorasse outras, mas se identificou com a maioria. E sem que eu percebesse estávamos falando do passado, nos olhando nos olhos, de mãos dadas sobre a mesa, refletindo sobre o presente, confessando sonhos e decepções, e o tempo passou tão rápido ! Já era noite.
Interrompeu a conversa, levantou dizendo que tinha que ajudar a fechar o estabelecimento, mas que eu o aguardasse uns instantes pra continuarmos o papo em outro lugar. Esperei, esperei, esperei. Foi quando o gerente apareceu e me pediu que saísse que já estavam atrasados pra fechar. Perguntei sobre o tal que me deixou ali plantada, ele me disse que já não havia mais ninguém. Agradeci com raiva e saí quase furando o chão com meus passos de adolescente mal criada que a mãe deixou de castigo.
Fui pra casa e a imagem daquele imbecil não saía da minha cabeça cheia de pensamentos vingativos. Liguei a tevê, tirei os sapatos, me larguei no sofá, depois de umas duas horas o sono bateu e apaguei a luz me aconchegando pra dormir ainda inconformada: “ mas que filho da puta, nem se desculpou pelo tempo que me fez perder, nem deu tchau ou agradeceu pela companhia que lhe fiz, pelo ótimo papo que tenho. Ainda falei de sonhos ! Merda de sonhos ! Não volto lá nunca mais, não caio mais numa dessas, não mesmo. Estúpida ! ”
Acordei, abri as cortinas deixando o sol daquele dia lindo entrar na minha janela e percorrer o meu corpo, e fiz um café. No primeiro gole me lembrei da palhaçada do dia anterior e pensei sorrindo extasiada e surpreendida pelo sabor tão agradável que o meu café tinha “ grande filho da puta ! E eu só queria um café. ”
ps: esse é um dos meus primeiros! haha (: